segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os desafios da nutrição infantil (Por Aline Brum)

Matéria escrita pela nutricionista Aline Brum


Sempre quando penso na frase “Comer bem é viver melhor” , eu me animo. Esse pensamento, quase um clichê, que ronda as nossas mentes, que faz de nós eternos amantes da boa nutrição (e não necessariamente da boa comida!), encontra seu alge, como o mais sublime pensar, quando aplicado a alimentação infantil.
E nós, que buscamos o aprimoramento da nossa saúde, quando pensamos em nossas crianças (ou nossos filhos, para quem os têm!), desejamos, com todas as nossas forças, que a nutrição saudável os envolva de uma maneira irresistível. Se, comer bem, é a melhor pedida a nós adultos, imagine comer bem desde sempre! Quando uma criança têm o privilégio de ser ensinada a comer da melhor forma possível, dá-nos a chance de reconhecer os valorosos benefícios da nutrição, e nos entusiasmar com ela.
Indiscutivelmente, sou uma amante do que eu costumo chamar de “A arte de nutrir”, ou seja, da ciência da nutrição. Acredito no que faço. É bem verdade que a nutrição infantil não me atraiu em um primeiro momento, mas, depois de reconhecer o desafio que tinha pela frente, e, como sempre, os desafios são deliciosamente atraentes, resolvi encarar!
A situação é a seguinte: de um lado mães e pais (as vezes avós, tias, babás, professoras...) afoitos por ver suas crianças bem nutridas, quase sempre, a beira de um ataque de nervos, do outro, elas, as protagonistas, as crianças, que se recusam a comer, fazem pirracinhas, choram, gritam, jogam tudo no chão, querem sair correndo, querem aviõezinhos, sobremesas, fast foods, só comem batata frita, só tomam leite e na mamadeira, comiam tudo quando bebês, mas agora nada e ai de quem tentar insistir, em suma, um verdadeiro caos! E então, alguém se pergunta, onde será que fica ou pra onde vai a nutricionista nessa hora? Deveríamos cobrar insalubridade!!
Brincadeiras a parte, nada de pânico, nem desânimo, é bem possível realizar um trabalho bem interessante, motivador e, o melhor de tudo, recompensador. Então vamos ao que realmente interessa, sem mais delongas, listarei aqui algumas dicas de como agir nos casos que a criança não quer comer, para todos aqueles que, assim como eu, amam a nutrição infantil.
Em primeiro lugar, é importante sabermos a causa da recusa alimentar da criança, geralmente é recomendado uma consulta médica para descartar uma causa patológica, infecções, parasitoses, carências de vitaminas e minerais, distúrbios de deglutição, doença do refluxo gastroesofágico, alergia alimentar, entre outras causas devem ser descartadas. A primeira observação do nutricionista deve ser em relação ao peso e a estatura da criança, e se a mesma apresentam índices de desenvolvimento adequados. Se o peso e a altura da criança estiverem de acordo com as recomendações para a idade, deve ser investigado práticas alimentares inadequadas realizadas pelos pais, como por exemplo:
- alimentar a criança à noite, enquanto ela está dormindo ou sonolenta porque ela não se alimentou direito durante o dia;- alimentar mecanicamente, estabelecendo horários rígidos para a alimentação, sem respeitar a saciedade ou oferecendo os alimentos como se a criança fosse um objeto inanimado;- tentar alimentar a criança constantemente, geralmente sem sucesso, independente do apetite da criança, na tentativa de fazer com que a criança aceite mais um pouco de alimento ou bebida;- forçar a alimentação, mesmo após recusa da criança e contra a sua vontade (por exemplo: abrir a boca da criança e colocar o alimento à força);- distração condicional, isto é, a criança só aceita a refeição se houver distração (com música, televisão, brinquedos, se estiver andando) e não demonstra interesse em se alimentar;- prolongar a refeição por mais de 30 minutos, apesar do insucesso em alimentar a criança.
Uma vez identificados os erros podemos começar a orientação de como agir de forma correta. De maneira geral, os pré-escolares devem receber de 5 a 6 refeições ao dia (café da manhã, almoço, jantar e de 2 a 3 lanches), em intervalos regulares (a cada 2 a 3 horas), mas sem rigidez, isto é, respeitando os sinais de fome e saciedade da criança. Todos os grupos de alimentos devem ser oferecidos e de forma variada. Os alimentos devem ser colocados no prato em pequena quantidade, permitindo repetição por solicitação da criança. Deve-se desencorajar as refeições noturnas, a oferta de guloseimas e de sucos entre as refeições. As crianças devem se sentar à mesa, realizar as refeições junto com a família, sendo estimuladas a se alimentar sozinhas, mas sempre com supervisão. Em caso de uso de mamadeiras, estas devem ser substituídas pelo copo.
A criança deve ser preparada para a refeição, isto é, avisá-la para ir finalizando a brincadeira ou qualquer outra atividade minutos antes da refeição e ir se “aprontando” para a refeição. Pois, se a criança está completamente envolvida com brincadeiras e é interrompida bruscamente, haverá maior resistência para sentar-se à mesa para a refeição. É comum as crianças apresentarem neofobia, ou seja, aversão a novos alimentos. A oferta do alimento novo no início da refeição, quando a criança está com mais fome, pode facilitar a aceitação. Enfatizar a cor, forma, aroma e textura dos alimentos para despertar o interesse da criança.
Não se deve exigir que a criança coma tudo o que está no prato, mas sim, permitir que ela respeite os sinais de saciedade. Também não é recomendado insistir, fazer chantagem, pressão, punir ou prometer premiações como a sobremesa. Estas estratégias só pioram a aceitação dos alimentos em longo prazo. A sobremesa e os outros doces não devem ser supervalorizados, mas sim oferecidos eventualmente, como mais uma preparação, com limites quanto ao horário e quantidade. Os alimentos não devem ser divididos em “bons” e “ruins” ou “permitidos” e “proibidos”, pois isso só aumenta a vontade de comer aqueles alimentos que são “ruins” ou “proibidos”.
Esconder as verduras em outros alimentos bem aceitos não é aconselhável, já que a criança não aprende a comer adequadamente. A criança precisa ver o alimento e saber o que está comendo, pois só assim, aprenderá a ter uma alimentação saudável e variada.
Na maioria dos casos, as crianças não precisam de polivitamínicos ou suplementos alimentares, já que estes não irão exercer efeito sobre o apetite e não solucionarão o problema.
O nutricionista deve demonstrar aos pais que, assim como eles, se interessa pela boa nutrição e o bom desenvolvimento da criança. Os pais, por sua vez, devem ser exemplos para os filhos no quesito alimentação saudável. Desta forma, mostramos que somos aliados, que todos os ajustes necessários ao alcance do objetivo comum, serão recompensados. É importante criarmos um vínculo de confiança e, sobretudo, carinho. Juntos, pais, profissionais nutricionistas, professores, babás, avós (...) se esforçando, negociando, abrindo mão aqui e ali (ninguém é de ferro!), o sucesso é garantido e a satisfação é certa!

2 comentários:

  1. Muito bom Aline. Alimentação infantil é sempre um desafio, tanto para os nutricionistas quanto para os pais. É muito importante que tenhamos não só o conhecimento científico,mas também a segurança de estarmos agindo corretamente. Parabéns.

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  2. AMEI!!! Mto bem escrito! Linguagem acessível, sem cientificismo demais, brincadeiras na dosegem certa e dicas pertinentes, pq vão de encontro a mtas práticas inadequadas de pais e/ou cuidadores. Parabéns, Alice! :D

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